segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Crime Passional


 Crime passional

É interessante, ou às vezes apavorante, constatar como os sentimentos regem a humanidade. São seres superiores equiparados aos outros seres. Prova maior disso é estarem no topo da cadeia alimentar, e não poucas vezes, devorarem tudo o que encontram pela frente. Mas ainda assim, estão todos eles, propensos a se tornarem vítimas e presas de suas próprias atitudes, que por sua vez, são regidas por sentimentos que os acomete na fragilidade de seu ser.
Um exemplo gritante é a paixão. Hoje, cresce ininterruptamente a lista de crimes passionais. Onde o réu é tão vítima quanto o próprio defunto. Aliado a esse sentimento, e que dá força para que se chegue a tal extremo, está o medo. O medo de se ficar só, o medo da rejeição, o medo de não conseguir continuar, o medo do não pertencimento, o medo de ser esquecido e substituído. Tantos medos!
Nesses tempos frenéticos, de cidadãos tão competitivos e inseguros, gerados normalmente pela imposição do capitalismo, voto que o mal do século passe a se chamar medo.
O chefe de família já acorda com medo das faturas por vencer. Dirige-se ao trabalho com medo de assalto, ou sequestro relâmpago, ou similar. Trabalha sobre a pressão constante de perder seu cargo para alguém mais jovem e menos caro para empresa. Retorna para casa. Exausto. Trânsito. Assalto. Sequestro. Medo.
Passa pelo portão sobressaltado, não se acalma até que consiga ver suas duas filhas bem. Passou o dia temendo que algum maluco adentrasse ao colégio e descarregasse várias vezes sua fúria em forma de balas nos pobres e indefesos alunos. É nesse instante de alívio momentâneo que pousa os olhos sobre a esposa, que o faz esquecer quaisquer sentimentos que não o de aconchego, no hálito quente de boa noite de sua amada cúmplice.
No fim da noite está mais morto que vivo. Exaurido pelo medo que sentiu o dia todo, vira para o lado e dorme, sem condições para mais nada. Então, sua esposa esquecida, outra vez, no canto do leito, também sente medo. Medo de não apetecer mais o marido, de ter perdido o sabor. Medo de estar sendo traída. Medo de não descobrir. Medo de descobrir. E o que poderia fazer quando enfim descobrisse?
Assim, a madrugada desliza rapidamente, em meio a latidos e uivos de cachorros soltos nas ruas, enquanto a pobre insone mulher planeja e desplaneja sua vida, baseada em seus medos.
Talvez acorde e cometa um crime passional. Por puro medo!

©Por Lilly Araújo - 31/05/2011 - Direitos Autorais Reservados.

#Classificada para compor a Antologia no

2 comentários:

  1. Adorei Lilly, isso do autor de um crime passional ser também vitima como a vitima é um achado. Um beijo.

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  2. Dario,

    obrigada por vir, ler e comentar, é por isso que as palavras valem, pois alcançam onde nem podemos sonhar.

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