sábado, 9 de julho de 2011

Um Lugar De Meus Sonhos


Um Lugar De Meus Sonhos

Acordei muito gripada. Resolvi nem sair de casa hoje, porque nesse estado seria muito difícil enfrentar um ônibus lotado, e poderia acabar disseminando esse vírus que me pegou de jeito. E ir de carro com a gasolina a 3 reais e 15 centavos? Nem pensar!
Fiquei em casa mesmo refletindo...
Eu sou brasileira e pago os meus impostos, até os que desconheço eu vou pagando, e pagando. Mas quando entro no hospital público é sempre a mesma história: “O médico de plantão ainda não chegou e já tem 30 pessoas na sua frente!”. O jeito é esperar, ou me automedicar, ou pagar mais uma vez por um médico particular.
E o Brasil está crescendo em ritmo assustador. Talvez seja até por isso que os impostos não baixam, porque senão o povo consome muito e desregula a economia. Esse papo econômico que eu nunca entendo direito. Porque a escola fez questão de nos treinar para outras coisas, que não, entender as peripécias econômicas, malandragens políticas e de nossos direitos civis, nada garantidos pela maioria dos candidatos que elegemos “democraticamente”.
 Então eu me dou ao luxo forçado de ficar em casa e observar de fora, como um mero expectador, o pulsar frenético da cidade grande. De dentro do meu apartamento estou a salvo! Pelo menos por um dia.
Aqui da minha janela eu vejo as fumaças saindo dos escapamentos dos milhares de carros engarrafados no trânsito febril, e brinco de imaginar bichinhos e objetos se formando nelas, assim como fazia com as nuvens quando era criança. Percebo quando um motorista a beira de em surto psicótico coloca o corpo do lado de fora de seu carro e gesticula enraivecidamente contra um outro, que acabou de lhe dar uma fechada para conseguir uma ultrapassagem forçada. A altura em que estou e meu vidro da janela fechado me poupam de ouvir as suas verbalizações, que com certeza não foram nada gentis. Eu apenas sorrio, e penso que loucura!
Volto ao meu chá de gengibre com gotas de limão que está quentinho e me enfio debaixo do edredom aconchegante, e vou me lembrar de quantas vezes eu pude ficar com janelas abertas e mesmo assim conseguir respirar, isso era quando estava na fazenda de meus avós, e os únicos sons que me acordavam era de grilos, pássaros, cigarras e outro bichos felizes a viver a vida como eu gostaria.
Num dado momento de minhas conjecturas eu me compadeço de você, que provavelmente não acordou gripado hoje, e teve que sair de casa para a lida, ao certo enfrentou um ônibus abarrotado de trabalhadores, ou se sentiu assaltado na bomba de combustível, e encarou o trânsito mais uma vez engarrafado, e ainda filas de bancos sem fim. Você que engoliu muita fumaça preta, muito “sapos” do chefe estressado, que saiu para o almoço e voltou atrasado, ou você que nem teve tempo de almoçar. Eu me compadeço de você, que infelizmente retornou desamparado e desesperançado, sem o atendimento do hospital mal equipado, e pensou: “Para onde é que foi o dinheiro dos impostos que eu pago?”- Como eu também pensei.
E pelo cansaço e medicação eu adormeço, e sonho com uma cidade bem projetada, onde os políticos amam o povo que os elegeu e os paga tão bem, e assim retribuem com saúde e educação pública exemplar. Um lugar onde a poluição foi erradicada por pesquisas patrocinadas pelo governo, e descobertas por esses maravilhosos cientistas que nós temos hoje em nosso país. Na cidade grande dos meus sonhos, cada um respeita o seu próximo e por isso não há injustiça e má distribuição de renda, e todos podem respirar aliviados. Até as árvores são mais saudáveis e têm líquens em seus troncos, porque o ar está limpo. E os seus galhos acolhem ninhos de passarinhos cantantes...
Então eu acordo com o estrondo uma batida violenta nas ruas lá em baixo. E percebo que eu e você ainda vivemos nesta mesma cidade. E só nos resta tentar nunca perder as esperanças de morar um dia em um lugar de meus sonhos.

© Por Lilly Araújo-20/04/2011- Direitos Autorais Reservados.



Publicado na CBJE

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